Ed Wood não foi o pior cineasta de todos os tempos. Qualquer um que tenha assistido a curtas-metragens brasileiros dos anos 70 e 80 sabe disso.
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Mas Wood (1924-1978) ganhou uma votação nos anos 80 como “o pior” e ficou marcado. Seus filmes viraram objeto de culto.
Amanhã, a Caixa Cultural, em São Paulo, começa uma retrospectiva de Ed Wood, com entrada franca (veja programação aqui). Se você não conhece os filmes, vale assistir. São divertidos demais.
O que mais impressiona em Ed Wood é a coragem. Ele escreve os diálogos mais obtusos e as cenas mais ridículas, com a pompa de quem está criando uma verdadeira obra de arte. Os atores são todos péssimos, mas estão levando aquilo muito a sério e se esforçando ao máximo para fazer o melhor. Isso torna a ruindade comovente.
Em “Plan Nine From Outer Space” (1956), filme mais conhecido de Wood, o vidente Criswell – um personagem da TV, conhecido por nunca acertar uma previsão – aparece na abertura, fazendo um monólogo primoroso: “Saudações, meus amigos. Estamos todos interessados no futuro, pois é lá que você e eu vamos passar o resto de nossas vidas. E lembrem-se: eventos futuros como esses vão nos afetar no futuro!”
Em outra cena clássica, um policial, observando um cadáver, diz: “Uma coisa é certa: ele foi assassinado, e alguém é responsável por isso!”
E o que dizer da antológica frase proferida por um “extraterrestre”: “É interessante perceber como os terráqueos capazes de pensar são tão amedrontados por aqueles que não pensam!”
A vida de Ed Wood foi mais estranha que seus filmes. Ele orbitou nas esferas mais toscas da indústria de Hollywood. Tentou a sorte como diretor e roteirista, sem sucesso. Fez filmes de terror, ficção-científica, faroestes, dramas gays e comédias eróticas, cada um pior que o outro. Escreveu dezenas de romances de sexo, também pavorosos. Era alcoólatra e gostava de se vestir de mulher. Tinha um fetiche por suéteres de angorá, os preferidos de sua mãe. Depois do ataque japonês a Pearl Harbour, se alistou nos Fuzileiros Navais e chegou a lutar no Pacífico, mas tinha um medo danado de ser ferido e que descobrissem a calcinha e sutiã que usava por baixo do uniforme.
Nos anos 50, conheceu Bela Lugosi, o grande Drácula do cinema. O astro estava em decadência, viciado em morfina e vivendo de bicos em filmes de quinta categoria. Wood o convenceu a atuar em alguns de seus filmes. Durante a filmagem de “Plan Nine From Outer Spadce”, Lugosi morreu. O diretor simplesmente botou outro ator em seu lugar e o mandou cobrir o rosto em todas as cenas, para que o público não percebesse.
Wood sempre se cercou de atores e atrizes igualmente sem talento, mas que tinham adoração por ele. Gente como Paul “Kelton the Cop” Marco, o gigate Tor Jonhson, Valda Hansen (a “Fantasma Branca”), Maila “Vampira” Nurmi e a drag queen Bunny Breckinridge. Tive a sorte de conhecer alguns deles em um evento em 1992, que reuniu o elenco dos filmes de Ed Wood. Era comovente o carinho que eles tinham pelo cineasta. A maioria ainda vivia da venda de fotos e autógrafos para fãs.
Se você lê em inglês, não deixe de comprar “Nightmare of Ecstasy”, de Rudolph Grey, biografia de Wood. Ou assista ao tributo de Tim Burton, “Ed Wood”, com Johnny Depp no papel de Wood e uma atuação primorosa de Martin Landau no papel de Bela Lugosi. Acho o melhor filme de Burton e uma das homenagens mais bonitas que um cineasta já fez a outro. E Bill Murray no papel de Bunny Breckinridge é de matar.
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