Quando você acha que a música pop não tem mais nada de novo a oferecer, vem o Daft Punk e faz algo novo e inesperado.
“Random Access Memories”, o último disco do duo francês – e apenas seu quarto lançamento em 20 anos – é um dos melhores discos de 2013. E a faixa “Giorgio by Moroder” é o destaque. Há muito tempo não se ouvia nada tão genial no mundo pop.
A canção é uma homenagem ao italiano Giorgio Moroder, um dos produtores e compositores mais importantes da música eletrônica dançante.
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Mas a forma como o Daft Punk homenageia Moroder é inusitada: usando o som de uma entrevista com o artista, o duo fez uma espécie de colagem pop-jornalística, quase um minidocumentário musical que cita várias fases da carreira de Moroder e ilustra suas declarações com música.
Quando o italiano fala do início da carreira, tocando em discotecas na Alemanha, ouve-se, ao fundo, sons que remetem ao tipo de música ouvido em discotecas naquela época.
Moroder depois conta como teve a ideia de usar o sintetizador Moog em suas músicas. “Eu sabia que precisava de um click, então coloquei um click”. O “click” a que ele se refere é o som produzido por um metrônomo, usado para que músicos possam manter o ritmo.
Assim que Moroder termina a frase, o Daft Punk coloca, sob a voz do produtor, o som de um click. O efeito é minimalista e fantasmagórico. O silêncio súbito choca o ouvinte e o faz prestar ainda mais atenção às palavras de Moroder.
Mais que uma canção pop, “Giorgio by Moroder” é um experimento sônico corajoso. São nove minutos que desafiam as convenções da música pop comercial. A faixa é longa, cheia de mudanças de tempo e de harmonias, com toques de discoteca, ambient, synthpop old school e até jazz. Coisa de gênios.
A última frase de Moroder resume tudo:
“Uma vez que você liberte sua mente do conceito de harmonia e música ‘corretos’, você pode fazer o que quiser. Ninguém me disse o que fazer, e não havia concepções prévias sobre o que eu deveria fazer.”