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Só no Brasil que barco é coisa de rico

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Dê uma olhada no anúncio do São Paulo Boat Show, realizado em outubro:

 

 

 

 

 

 

 

 

Agora veja o anúncio da tradicional feira de barcos de Annapolis, nos Estados Unidos, realizada uma semana antes:

 

 

 

 

 

 

 

 

Pena que não encontrei, na Internet, a imagem do outdoor na Marginal Tietê que anunciava o São Paulo Boat Show. Além do gigantesco iate, que mais parece uma nave espacial, havia a foto de uma modelo de vestido de lamê dourado e taça de champanhe na mão, fazendo biquinho para a câmera.

As imagens usadas para vender as feiras de São Paulo e Annapolis não poderiam ser mais diferentes.

Aqui, o evento é vendido como uma oportunidade de experimentar “o luxo e sofisticação do mar”.

Em Annapolis, há uma foto aérea de uma baía, lotada de barcos de todos os tipos e tamanhos. O anúncio parece dizer: “Venha, que há um barco aqui para você”.

O evento de São Paulo é exclusivo. O de Annapolis, inclusivo.

Um parece considerar o mar coisa para poucos privilegiados; o outro parece convidar todo mundo a ter seu próprio barco.

No Brasil, barco é considerado coisa de rico. Os preços de barcos, de acessórios, de marinas, de qualquer coisa relacionada ao mar, são absurdos.

Um barco usado, aqui, custa pelo menos quatro vezes mais que um modelo semelhante no exterior.

E isso num país com oito mil quilômetros de costa contínua (uma das maiores do mundo) e com um litoral facilmente navegável.

Em outros países, no entanto, barcos são alternativas baratas para moradia e transporte.

Temos um conhecido que mora em um veleiro de 32 pés na Califórnia. Ele comprou o barco por menos de 30 mil dólares e paga 250 dólares por mês para deixá-lo numa marina linda, com segurança, vestiários limpíssimos e confortáveis e Internet de alta velocidade. Ele trabalha de terno e chega ao emprego em dez minutos, a pé. No fim de semana e nas férias, viaja com o barco. Não quer outra vida.

Aqui, em contrapartida, quem quiser morar num barco vai ter de pagar os tubos numa marina ou deixar o barco à mercê de assaltos em alguma praia.

Converse com qualquer velejador brasileiro e ele contará casos escabrosos de assaltos e violência. Temos conhecidos que foram deixados amarrados dentro do veleiro, depois de ameaçados com facas e pistolas.

Enquanto isso, nossas feiras de barcos vendem a ideia de que barcos são hotéis flutuantes, onde você poderá beber champanhe com uma gata vestida de lamê dourado. Luxo e sofisticação, e não aventura e contato com a natureza. Tá tudo errado.


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